Habacuque se queixa do silêncio de Deus. Ele está quieto, nada fala sobre os desmandos humanos. Este é o grande problema.
Citando Feinberg: “O silêncio de Deus nos negócios humanos, tanto ontem como hoje, tem sido difícil de aceitar. Mas isso não quer dizer que não haja uma resposta e que a sabedoria divina é incapaz de lidar com a situação. Tudo está sob o seu olhar e todas as coisas estão debaixo do controle de suas poderosas mãos.”.
Sabemos disso, como cristãos. O problema é quando o silêncio divino nos atinge.
Um chefe de família está desempregado, ora a Deus pedindo emprego e não consegue.
Deus está silencioso.
Uma jovem mãe está com câncer, sabe que vai deixar os filhos neste mundo, ora a Deus pedindo cura e ela não vem.
Por que Deus não responde, quando clamamos?
No judaísmo rabínico, posterior a Habacuque, desenvolveu-se o conceito do silêncio de Deus. Os rabinos faziam a exegese de Gênesis 1.3 e perguntavam: "O que havia antes de Deus falar?" e eles mesmos respondiam: "o silêncio de Deus". E desenvolviam a idéia de que Deus se mantivera em silêncio, antes de um feito estrondoso.
O conceito do silêncio de Deus se associou, portanto, a um prelúdio a uma ação grandiosa do Senhor. Podemos tomar este conceito emprestado e falar dos 400 anos de silêncio de Deus, sem profeta, no período intertestamentário, até que viesse o maior de todos os homens, Jesus Cristo.
Deus estava em silêncio, mas isso não significa sua apatia nem que abandonara o povo.
Estava engendrando algo grandioso.
O quê, exatamente, podemos perguntar?
E, como os rabinos, dar a resposta à nossa pergunta: o juízo sobre Judá.
Habacuque via a maldade, a corrupção, o afrouxamento da justiça.
Deus puniria o povo.
Iria enviar os caldeus.
Mas esta resposta angustia mais o profeta.
Os caldeus são piores?
Como usar a maldade máxima para punir a maldade média?
Quem punirá a maldade máxima?
Muitas vezes a resposta divina às nossas perguntas não nos aquieta, mas piora a situação.
Ele é desconcertante.
E pegou Habacuque de jeito. Este volta a expressar sua inquietação. Nosso profeta me ajuda bastante: é possível abrir o coração diante de Deus, confessando os temores, as dúvidas e as perplexidades. Numa segunda resposta, o anúncio é de que Deus julgará os caldeus também.
O silêncio divino cessa e ele revela uma verdade a Habacuque. Verdade que precisamos guardar também conosco: Deus é o Senhor da história. Pune quando quer, usando quem quer. Não é apenas o seu tempo que não é o nosso tempo. Os seus instrumentos também não são os nossos instrumentos. Nossa geração viu o desmonte do maior império mundial de todos os tempos, o bloco soviético. Mais de um terço da população mundial estava subjugado ao poder comunista. Parecia um regime inabalável, um bloco sem fissuras. De repente, desabou. Em alguns países levou anos. Em outros, meses. Em outros, semanas. Em alguns, apenas dias. Mas o que parecia impossível sucedeu em pouco tempo. O império soviético acabou quando chegou o momento de Deus.
Se não há uma resposta verbalizada ao problema do mal em Habacuque, ela está implícita: Deus está no comando. Este é o sentido de 2.20: "Iahweh está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra". Não é um texto litúrgico, para cessar a conversa no salão de cultos, entoado à meia-voz pelo coro da igreja. O "santo templo" é o celestial, em Temã, de onde Iahweh saía para efetuar juízo. Quando ele saía do seu santo templo, a terra tremia: vinha juízo. "Deus veio de Temã e do monte Parã o Santo. A sua glória cobriu os céus, e a terra encheu-se do seu louvor... adiante dele vai a peste, e por detrás praga ardente" (3.3, 5). A oração de Habacuque mostra o seu deslocamento de Temã e como a terra treme diante dele. Calem-se todos. Ele está no templo, assentado para julgar.
"Cale-se" é o hebraico has, uma ordem peremptória, autoritária, sem comportar discussões. Calem-se todos, inclusive você, Habacuque, porque Deus está no comando e está saindo para julgar.
Parece que Deus está em silêncio?
Calemo-nos, ele está para fazer grandes coisas.
Conforme livro do Profeta Habacuque.